A primeira paragem foi na Nova Estrela para vislumbrar o Boné de Jóquei desta vez de cima da árvore. Para mim, uma das melhores vistas da ilha. Nesse momento encontrei o Varela, que é um excelente cozinheiro actualmente a trabalhar no restaurante Armazém em Santo António, que hoje estava de folga. A segunda paragem foi no Terreiro Velho, mais propriamente, na propriedade do chocolateiro italiano, o Cláudio Corallo. Não foi possível visitar o armazém de secagem de cacau mas a paisagem em volta da casa é tão bonita que por si só foi o suficiente. A cada novo lugar que acedo parece-me ver um mar diferente bordado por novos montes; as cores são as mesmas mas os adornos são sempre particulares, únicos. As árvores que se erguem na bordadura das colinas não se repetem mas parecem cumprimentar-se perto de um céu coroado por todas essas copas verdes que ali se encontram. O terreno do Cláudio Corallo está bem aproveitado e bem situado. Apesar de a casa estar fechada, o guarda permite uma visita à propriedade. Passa pouco das nove da manhã quando começamos a descida de carro à direita. O caminho não se apresenta em bom estado porque tem chovido bastante e os buracos aprofundaram-se. Com a chuva, da terra fez-se lama e as pedras maiores foram deixadas à vista mas vou conduzindo devagar e com cuidado. Voltamos ao Parque Natural do Ôbo, mas desta vez ultrapassamos os locais que correspondem ao início do trilho para a Cascata Oque Pipi e seguimos em frente. Às dez para as dez, estaciono junto da Roça da Ribeira Fria, onde conheço o simpático Sr. Romão. Uma das vantagens de percorrer a ilha com um guia local é que esse guia, no meu caso o Balú, conhece todos os conterrâneos pelo nome, e portanto é um suceder de apresentações. Continuamos a pé. Primeiro em terreno plano, com uma abertura no caminho com vista para o pico Dois Dedos, e sobretudo muita lama no chão onde temos necessariamente de afundar os pés. Estamos numa ilha tropical e não há escapatória. Dava-me jeito um par de galochas mas dentro de meia-hora vai aparecer a placa a indicar TR3 (Trilho 3) e iremos descer no mato até à costa. No Príncipe, nunca andamos em recta durante muito tempo. Os montes escondem os pontos de interesse e quem tem interesse nesses pontos, tem de os subir e descer. Neste caso, descer para depois subir. Normalmente, faço isto tanto por desporto como por curiosidade em relação ao destino em si. São excelentes exercícios físicos para uma ilha de 142 quilómetros quadrados de superfície, dos quais 85 pertencem ao parque natural. Percebemos que estamos perto do porto quando começamos a ouvir o mar. Chegar à praia dá-me um certo alívio mas o mais surpreendente foi ter encontrado um lugar sem areia e repleto de pedra: seixos grandes, cinzentos. Subimos o rochedo à esquerda no qual se encontra inutilizado um guincho do tempo do colonialismo que servia para retirar o que chegava àquela parte da ilha por via do mar para abastecer a Roça. O guincho entretanto está coberto de ferrugem, não há uma roldana que avance um milímetro nem corrente que se mexa. O guincho vai ficar por ali imortalizado para não nos esquecermos que aquele tempo acabou. É um lugar do passado e não senti que a água fosse convidativa a mergulhos. O mar assomava mais em tons de cinzento do que a azul. O Balú em lugar de se referir ao local como Roça do Infante (D. Henrique), diz que chegamos ao Porto General Fonseca. Independentemente do nome, a mim agradou-me mais ouvir o verbo chegar, e sentei-me nas pedras. Não íamos voltar já para trás. Há que respirar os sítios onde provavelmente não se irá voltar. Enquanto ali estivemos espantou-me ver alguns pescadores, mas estes principenses são homens habituados a entrar na mata, para cima e para baixo, e entrar na água para ir buscar um polvo como quem vai ao outro lado da rua beber um café.


















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