As crianças do Príncipe fabricam os próprios brinquedos. Sobretudo a partir de madeira e plásticos, produzem-se carrinhos de vários tipos. Estes meninos e meninas são a própria definição de entrepreneur mas constroem brinquedos pelo prazer de brincar. Vê-se no olhar destas crianças que só pisaram e só conhecem estas terras. Longe dos supermercados de brinquedos que o Ocidente trouxe da América, estas crianças andam pelos campos a apanhar fruta, sabem o nome das plantas, dos pássaros. A alegria é o seu grande ingrediente genético. Não queixam da chuva, da falta de sapatos, do peso da água que lhes mandam ir buscar à fonte. Nestes miúdos fecundam sorrisos quando andam à boleia na caixa das carrinhas porque vão chegar mais depressa ao destino. E o destino deles para o final do dia não é muito diferente do meu, nem do das outras quase 8 mil pessoas que hoje habitam a ilha. É a vida em leve leve. Às vezes, agarram-se à nossa cintura e dizem que gostam de nós. São já fruto do pós-colonialismo. Com eles, não tenho de exprimir a vergonha que sinto do passado dos portugueses que me antecederam. E estes encontros são aulas de antropologia. Aprendo sempre e sinto que, em muitos valores, venho de um mundo que se inverteu. E agora desfazer o pino?
