No caminho para Amber paramos para observar o Jal Mahal, ou o Palácio da Água. Não podemos aproximar-nos do belo elemento que se avista cercado por água mas a paisagem impõe uma fotografia. O palácio morará eternamente ali como registo na imagem mas o momento em que o vejo eclipsa-se assim que viramos costas de regresso ao carro.

Seguimos depois para o Palácio de Amber que não tarda a preencher o horizonte. Lá de longe, a fortaleza estende-se imponente. E, lá de longe, vejo uns pontos escuros mexendo-se devagar. Entramos na área, atravessando os jardins. A fortaleza vai ganhando forma e tornando-se maior. Começo a subir a escadaria. Uns passos acima e vejo dezenas de elefantes em fila equidistantes, uns subindo outros descendo, a um mesmo compasso, como se uma corrente invisível os unisse nas incursões para cima e para baixo, sem destino, sem paragens. Girando em círculos, estupidamente às voltas. As trombas vão rasando o chão, algumas apresentam pinturas que crescem até às orelhas. No corpo, os elefantes estão cobertos por grandes mantas vermelhas de bordas azuis e farripas douradas; no dorso há uma cestinha para transportar pessoas. Os cornacas vêm sentados junto à cabeça dos animais, conduzindo-os, carregando um pau na mão. Um pau para impor obediência. Um pau, repito. Se houvesse uma forma de a natureza pedir clemência mas a franca pureza dos elefantes é comovente. É tão evidente a resignação triste destes paquidermes robustos naqueles serviços. E mesmo que não fosse, há que reparar no olhar daqueles animais porque a resposta está lá. Os elefantes fazem as excursões porque são obrigados pelos seus condutores, e fazem-no horas a fio. Os olhos são como uma ferida aberta sem sangue. Em 1872, Charles Darwin escreveu que “o elefante indiano por vezes chora” e estes factos são dados que não se devem desprezar. As pessoas têm de parar de subir para o dorso dos animais, pois já nada o justifica. Têm de parar de utilizar os animais como se fossem máquinas. Abordei uma turista que seguia sentada num dos elefantes que me respondeu: “I know, I know, but it’s something they told me to do once in a lifetime“, portanto, as agências turísticas insistem nestes serviços e as pessoas vão aderindo. Andar de elefante uma vez na vida não nos retira responsabilidade. Também conversei com o guia local que nos acompanhou na visita, expressando descontentamento por aquele desonrado espectáculo ao que me respondeu que concordava com a minha perspectiva mas que agora os elefantes só “trabalhavam” de manhã e com um máximo de três voltas completas na fortaleza. Imagino que a tarde dos elefantes seja passada na ignomínia do cativeiro. Tão triste.

O Palácio desmerece aquele espectáculo de criaturas vivas. Apresenta fachadas muito belas, edifícios majestosos em pedra de areia e mármore e, em especial, o Palácio dos Espelhos que se destaca. Mas nada faz esquecer a crueldade da indústria do turismo através dos seres que contra a vontade nos abrem as portas. Tenho a sorte de a vida já por diversas alturas me ter permitido ver elefantes no seu habitat natural e talvez por isso me tenha impressionado tanto o que vi. Estamos em 2023 e estima-se que 4 mil elefantes sejam mantidos em cativeiro na Índia.







