Jaisalmer: Cidade Dourada (Rajastão)

Depois de uma longa viagem de van chegamos a Jaisalmer, já pelas quatro horas da tarde mas, devido às bagagens para entrarmos na cidade velha dentro da muralha, apanhamos tuk-tuks que nos deixarão na rua do Hotel Shadi Garh. À chegada, é feita a distribuição dos quartos onde iremos pernoitar (esta e a próxima noite) mas combinamos sair em meia-hora a fim de melhor aproveitarmos o resto do dia. Espreito a cidade do terraço de cima verificando que a cor que impera é mesmo o amarelo mas não é um amarelo qualquer é um amarelo a luzir. Chegados à rua, antes de qualquer coisa, iremos primeiro trocar dinheiro pois o Sr. Vimal que gere o hotel tem um escritório próximo dedicado a money exchange.

Nesta região há mais homens a ostentar turbantes, e de cores fortes, arrojadas. As indianas passam exibindo os seus belos saris e as vacas continuam a passear em igual liberdade dentro e fora do forte e mesmo nas ruelas mais estreitas. Por vezes, temos de nos desviar subindo os degraus que dão acesso à entrada das casas. No centro encontramos muitas lojinhas e os templos jainistas entre outros edifícios que descobrimos depois de atravessarmos as ruelas da cidade construída com a areia do deserto Thar na qual cintila a cor dourada, como o Palácio Mandir que se destaca, sendo um local de passagem obrigatória.

Fora do forte, o Lago Gadisagar é outro ponto que nos conquista, cercado por magníficos rooftops para relaxar e tomar uma bebida fresca. O lago não é natural, foi construído como forma de armazenamento de água para abastecer as populações e pela proximidade ao deserto sente-se como um pequeno oásis. Ali flutuam embarcações-gaivota a pedal que podem ser alugadas para passeio e para aceder aos pequenos coretos que se distribuem no lago, somente acessíveis por barco. Os mercados sucedem-se também deste lado da muralha com produtos hortícolas mas também encontramos muitas lojas com bijuterias, gravuras, tecidos, roupa, e bonitas peças feitas à mão com a função de tapetes e mantas.

No regresso ao forte, para jantar fomos ao restaurante do Hotel Lotus Haveli um dos sítios mais divertidos onde estive nos últimos tempos. No topo da escadaria que nos leva até lá, lê-se que ‘rir faz bem à saúde’, o que considero uma verdade universal para os humanos. Serviram-nos um churrasco a acompanhar com pratos indianos e bebemos Kingfisher, uma vez que até então não tínhamos conseguido encontrar bebidas alcoólicas e só havíamos optado por refeições vegetarianas. A decoração do restaurante transportou-nos para as mil e uma noites. Apropriei-me da varanda sob uma lua cheia perfeita e ficamos a conviver até bastante tarde como se não quiséssemos despedir-nos daquele dia tão cheio quanto a lua e ainda mais maravilhoso pela oportunidade da vida dentro da terra cá embaixo nos premiar com dias como estes que a Índia nos tem dado. Na noite que se seguirá iremos tentar sem sucesso voltar a este espaço mas ao lado no Lake View Hotel o staff também é simpático.

O novo dia começa cedo no terraço superior para o pequeno-almoço. Enquanto esperamos que acertem as mesas deito-me num dos colchonetes a apanhar sol. Pedimos aveia com fruta e apesar de a aveia não ser uma das opções, a verdade é que, minutos depois vemos um saco de compras passar, e após a cozedura aquele nosso desejo vem parar-nos à mesa ainda quente, juntamente com sumos de fruta natural, pão indiano, compotas, café. Embora estejemos de visita ao país das especiarias, o que não conseguimos encontrar nos hoteis é canela. Ainda durante a manhã iremos visitar o Fort Jain Temple e os que lhe estão adjacentes. Independentemente da fé de cada um, estes locais são obras tão belas, pelo cuidado em geral com que estão trabalhadas, e pelo pormenor dos elementos esculpidos em particular, que é um prazer tirar o calçado para passarinhar no seu interior. Os pilares, os tectos, os altares e os objetos de representação das entidades que diria num estilo meio naïf. Tudo é muito bem cuidado. Como não percebo o que dizem as placas, através dos worshipers vou recebendo as traduções em inglês.

Antes de almoço iremos ver as lojas da cidade velha. Trouxe apenas 10 Kg de bagagem já com a ideia de comprar uma ou outra peça indiana e está na hora de o fazer. Os vestidos são baratos mas é preciso experimentá-los. Há uma loja específica onde nos iremos demorar um pouco. A proprietária decide fechar a entrada com uma cortina para eu e a Mariana podermos estar à vontade na tarefa de despir e vestir peças. Embora a comunicação não seja a melhor, ela vai virando sacos cheios de peças e entregando-nos para que experimentemos o que na sua perspectiva nos há-de ficar bem. A dada altura deixo de encontrar o meu próprio vestido que trazia dado o amontoado que entretanto se sobrepõe. Fizemos as nossas compras na loja dela, Shobha Handicrafts, com alguma discussão de preços. Os indianos querem sentir que os clientes estão satisfeitos e perguntam se estamos satisfeitos com determinada compra, depois usam esta expressão: “If you are happy, I am happy.” Se todos nos preocupássemos com a alegria do outro em tudo e em todo o lado, o mundo seria com certeza muitíssimo melhor.

Iremos almoçar a poucos metros dali noutro local que oferece uma vista majestosa sobre Jaisalmer, depois seguiremos para o deserto.

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