Ao chegarmos ao hotel Singhvi’s Haveli no centro histórico da cidade velha, apaixonamo-nos pelos quartos ainda antes do jantar. O rosto espanta-se em oval antes de sorrir, e o queixo eleva-se ligeiramente como se a cabeça precisasse de inspirar melhor a beleza do ambiente. É o conforto das suites deluxe: as cores, os motivos, e as toalhas dobradas em cisne que me trouxeram excelentes memórias de Zanzibar. Sentimo-nos bem e espreitamos a casa-de-banho que aqui não surpreende; apresenta-se limpa mas simples, isto é, tem os elementos necessários dos lavabos. É que na Índia, as áreas de duche resumem-se a um chuveiro a sair da parede ou do tecto. O chão não é separado por uma base como nos polibans tradicionais do ocidente, e nem as áreas laterais se protegem com vidros ou paredes. Às vezes encontramos uma banheira mas é mais comum o chão estar despojado e o duche ser apenas um jacto de água como se estivéssemos num jardim. Mas o quarto possui elementos que nos imbuíram de um sentimento de bem-estar. Eu conheço as teorias minimalistas da decoração nórdica e as noções do feng shui de eliminação de objectos, porém, não me identifico; talvez por gostar muito do factor cor que pinta o mundo me perca um pouco no vazio branco dos ambientes despojados e acomodo-me melhor nos que estão mais cheios desde que se mantenham organizados. No piso inferior há um grande lounge com um baloiço preso ao tecto que tem um pé direito elevado. Posto este acolhimento, abrimos as malas para a roupa respirar e subimos para o rooftop cujas luzes azuis enquadravam já a noite. Jantamos.


Na manhã seguinte visto-me de azul. É dia da mulher. Depois de um pequeno-almoço no primeiro piso em colchonetes e pernas na posição sukhasana, seguimos a pé até ao forte de Mehrangarh. Até lá deixamo-nos encantar pelas ruelas azuis mas é no interior do forte e do cimo da colina que a vista da cidade se exibe sem confusões e plenamente polvilhada em nuances de azul como se uma avioneta tivesse largado aquela tinta à sua passagem. Na entrada do forte aguarda-nos um grupo de macacos que não fogem e que até conseguimos fotografar. Dentro do forte as entidades são várias. Cumprimento Ganesha que surge sentado pintado de cor de prata à frente de um lago verde ladeado por um muro alto onde mais macacos correm e saltam.


De seguida iremos visitar Jaswant Thada, um cenotáfio mandando erguer por um marajá em homenagem ao pai. O interior é feito com pedra mármore, cujo efeito do sol visto de dentro é belíssimo. À medida em que o sol incide as pedras vão-se enchendo de luz, pelo que a localização deste espectáculo natural vai dependendo da hora do dia. As portas e portadas verdes contrastam com o mármore fresco. No jardim, existem coretos com urnas nos quais também temos de nos descalçar. Ao sairmos, é-nos indicado pelo guia local que visitemos a perfumaria ao lado. Rendo-me a um pequeno frasco de “White Oak” cuja fragrância é absolutamente enebriante, mas irei sentir-me ludibriada uns dias mais tarde quando encontrar frascos idênticos por um décimo do preço em outra cidade.





Regressamos aos tuk-tuk que nos levam até Toorji Ka Jhalra, um poço construído há quase 300 anos com sessenta metros de profundidade e uma escadaria com motivos geométricos de onde as pessoas ainda hoje se atrevem em saltos acrobáticos a mergulhar. Mais do que passearmos nos mercados e nas ruelas que foi o que se seguiu, encantou-me conhecer este lugar pela arquitectura singular dotada de grande imaginação e para perceber melhor as tradições ancestrais.


Avançamos ao longo do mercado Sardar de frutas e legumes, havendo sempre a calorosa e colorida presença dos indianos e dirigimo-nos à praça para almoçarmos as mais famosas omoletes da região na Omelette Shop na Praça da Torre do Relógio junto ao portão do lado Norte. Apesar do aspecto das frigideiras e do pequeno espaço não ser bom, recebemos os pratos das mãos de Shaum com as sandes de ovos, comprovando a razão de o negócio ter iniciado com o seu pai em 1974 e de coleccionarem boas críticas nas plataformas de avaliação dedicadas. Ainda descobrimos nas ruelas da cidade um artesão que faz pulseiras em lacre usando uma técnica de “cozedura” com moldes de madeira.




















O próximo destino é um workshop de culinária que durará largas horas na casa particular de um casal indiano, onde teremos a oportunidade de aprender a confeccionar vários pratos típicos indianos, incluindo masala chai, sopa de lentilhas (dhal), entre outros. Achei curioso o facto de o primeiro naan a ficar pronto ser para entregar a uma vaca e foi o que testemunhamos na rua depois de nos despedirmos desta família.

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