Holi Festival, Udaipur

Quem gosta de cores e de rir vai ao Holi. No festival celebra-se a última lua cheia do mês e comemora-se o início da Primavera e, também, através de uma fogueira, a vitória do Bem sobre o Mal. Então o mundo sério dá lugar ao mundo de fantasia. Os pós de muitas cores são atirados pelo ar ou espalhados directamente no rosto das pessoas. Há músicos que se misturam na massa humana e na folia. Os telemóveis que são as nossas câmaras estão envolvidos em celofane. Parecemos miúdos e nada se sabe dos deuses pois, de um momento para outro, não há ninguém em oração. O movimento das pessoas é uno na rua. Em saltos, em dança. Tiramos fotografias de grupo com pessoas de outros grupos. E parece que estamos contagiados por piadas novas que nos entram pelos olhos e cujo entendimento não podemos compreender. Parece que estamos a ser abanados dentro das bolas de vidro que se abanam para fazer cair a neve sobre nós mas esta é uma neve quente e com cores. Dir-se-ia uma neve-confetti. As pessoas continuam a distinguir-se: os de fora vestem branco, os locais roupas normais. No final, a cor ficará nos tecidos, no cabelo e na pele em manchas, borrões, riscas. Tudo se quer desarranjado. Quanto mais tinta nos tapar a cara melhor estaremos vestidos para a festa. E é deixar-nos ir sem medo de nos calcarem um pé. Sem receio de nos perdermos uns dos outros. Olhar todos aqueles estranhos pintados que por um momento são iguais a nós por um dia. Todos riem e pulam. O mundo é jovem e alegre, feito de pós amarelos, verdes, roxos, vermelhos, rosas e azuis que vão caindo do ar. O mundo é uma criança. Ninguém pensa no futuro, nem no passado. A vida ficou ao longe, ninguém quer saber se as barragens perturbam os peixes ou o estado da economia global, a invasão na Ucrânia, ou se vamos apanhar Covid. Ninguém se lembra sequer do nome da cidade, e Udaipur é (e será para sempre) o nosso espaço-Holi. O lugar que nos anima de cores e nos enfunou a barriga de riso. Parece uma magia interminável mas a manhã vai-se fechando. Cruzamos as ruas em sentido contrário com algum receio dos balões de água atirados das janelas. É hora de despir as roupas, tomar um duche, fechar as malas e seguir caminho. E se a tinta não sair (como não irá sair à primeira passagem) não faz mal.

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