Centro do Mundo (São Tomé)

Ter um dia inteiro em São Tomé permitiu-me visitar o Ilhéu das Rolas. Aluguei um carro mas não necessitei de GPS, pois o Zempêlê, primo do Aleks, disponibilizou-se para me acompanhar, tratar da travessia de barco e mostrou-me o caminho que conhece de cor. Não consigo sintonizar o spotify ao carro pelo que durante o caminho iremos ouvir Afro House, e uma mistura de música africana sobretudo de Cabo Verde. O Zempêlê há-de dizer-me no regresso que o som já me está a entrar no corpo. Expressões deste tipo, são próprias do povo santomense. Existe outra, a qual não quero esquecer que diz: “A mostarda já me está a chegar à pele”, que se percebe pelo sentido mas hoje não é dia para isso. A estrada é suficientemente fácil de fazer mas são cerca de duas horas e meia até chegar à Praia de Porto Alegre, onde se apanha a piroga azul que demora perto de 20 minutos a chegar ao Ilhéu das Rolas.

No Ilhéu espera-nos o Gracilayde. Talvez por não ser fácil de decorar, traz o nome estampado nas costas da t-shirt. O marinheiro do barco precisa de saber a que horas nos vem buscar. Combinamos ali ficar 2 horas e que pagaremos o serviço no regresso. Nesta altura, com os pés molhados, voltei-me de frente para o mar, para deixar a água azul-paraíso invadir-me os olhos. Afinal não é preciso ir ao Príncipe para encontrar o mar africano encantado do pequeno país das duas estrelas. Há ali, felicidade suficiente a transbordar das águas, provavelmente, a chegar da mesma fonte milagrosa do universo.

Não temos muito tempo. Gracilayde explica que o ilhéu tem actualmente 189 habitantes porque por imposição do resort Pestana (encerrado desde a Pandemia) muitas pessoas tiverem de abandonar o ilhéu e informa que todos os dias pelo menos 2 turistas chegam. Espantei-me com ambas as declarações: a primeira porque me faz pensar em usurpação das terras dos locais e a segunda porque o número de visitas mensais equivalem a um mínimo 60 pessoas. O marco do Equador é o ponto obrigatório que Gago Coutinho ali identificou aos zero graus de latitude e portanto fazendo parte da imaginária Linha do Equador: o centro do mundo. Alguns mosaicos que ocupam a área da Ásia precisam já de reparação: a Natureza começou a querer recuperar o que se esconde por baixo do planisfério, e que é seu: a terra escondida sob o mapa-mundo.

Depois seguimos para a rota das plantas, até à Praia Café. Almoçamos no Pratas (que recomendo) e regressamos à costa.

A travessia de volta aconteceu com o mar bastante agitado, devido ao mau tempo. Quando atracamos na Praia Porto Alegre,

fui interpelada pelo Pedro, um local que prometia controlar a aparição de tartarugas atirando cascas de fruta para a água. Como tal experiência acontecia a menos de 5 minutos a pé, aceitei. A verdade é que aconteceu conforme antecipado e prometido. No final, reparei que só tinha 45 dobras em dinheiro certo e o Pedro não aceitou. O combinado eram 50! Levamos mais tempo a trocar uma nota de 100 dobras do que a aguardar a vinda das tartarugas à tona da água, mas, contas são contas e pago o serviço, o Pedro pediu uma boleia gratuita para a Ponta Baleia, a um quilómetro e meio para Norte. Ainda brinquei com a situação mas levei-o ao seu destino, naturalmente, sem lhe cobrar nada. Com a chuva durante grande parte do percurso até à cidade, a estrada fez-se mais devagar. Paramos na Boca do Inferno onde comprei uma pequena máscara típica de São Tomé por apenas 100 dobras (4 euros). Por surpresa do Zempêlê, e seguindo as suas indicações num pequeno desvio em subida à esquerda, fomos dar à Roça Água Izé, onde visitei o Antigo Hospital, um edifício muito bonito entretanto ocupado pelos locais. Depois estive a interagir com as crianças da Roça que me pediram lápis, cadernos e um tablet. Não me passaria pela cabeça ouvir este último pedido mas penso que são sinais naturais dos tempos modernos em que vivemos e da importância da tecnologia mesmo nestas regiões do mundo. Ali mesmo ao lado onde conversava com as crianças havia uma cruz de Cristo, não habitada por Ele, e onde se lê “Foi por Amor”. Dois paus com aquela inscrição fazem o simbolo mais perfeito que alguma vez vi para representar o que deve ser o mote da cristandade, tudo devido ao sentido da frase. É que no simples se faz o belo e tantas vezes as palavras não chegam.

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