O Melhor do Mundo

(Para a Catarina, que hoje faz 11 julhos de vida)

As crianças são o melhor do mundo em todos os seus movimentos. Por trás desta imagem está o oráculo da Ilha, dos mistérios e das coisas por vir. As crianças são como as orquestras, existem em colectivo. Para elas ainda é tempo de inventar a vida, de poder procurar na aurora os braços do sol, e de flutuar noite adentro com o mar. Para estas crianças do Príncipe não é preciso mais do que o nada que se tem: um quintal, três caixotes e uma felicidade inaudita. Assim que as vi, parei o carro para me curvar. E para me lembrar da beleza desse momento. Para estas crianças indomadas ainda se trata de haver esta verdade. (Ainda. Como as gentes de aqui dizem.) Na realidade, o tempo não tem correspondência com o tempo além-mar. Estas crianças estão carregadas de instantes. Inquietude e instintos de eternidade. Olhem a luz branca nos olhos delas, abundantes de presente. Olhem como estão vivas. Olhem nelas a chama intensa que as faz tão bonitas. Olhem os seus desejos bola-de-sabão, explodindo. As crianças sabem que a tarde vem prometida no cofre das manhãs. E confiam na filosofia mística dos dias. Olhem tanta doçura e tanta glória nestas pequenas estrelas que Deus fez pousar em terra. Como os seus sorrisos se abrem em sons, que são os risos que se libertam delas. Como há música nesta imagem que podia ser a espantosa capa de um álbum. Porque as crianças têm todos os instrumentos agrupados na alma. E a vida corre a seu favor, desde dentro, estampando-se nos rostos delas, deixando essa orquestra ouvir-se. Sim, a vida ouve-se como o zumzum dos abelhas em nosso redor. A beleza nesta falta de silêncio é também uma espécie de definição de infância. Tantas possibilidades. Tanta liberdade. Tantos balões-dias por encher. Tanta força. Tanto tempo. Tanto por aprender. As crianças servem para lembrar os adultos que a graça da vida está e vem com elas. Como se fossem os pilares do Universo: elas e sua estrutura fundadora resplandescente. Às vezes, parecem escapar de uma paisagem longínqua quando se demoram em nós, como se a Natureza nos espreitasse através do olhar delas. E sentimos a imensidão desse amor que houve sempre. O amor que é a vida. É por elas que nos desprendemos dos anos que temos. Aqui, especialmente aqui, com este grande oceano em redor e por baixo da Ilha. Aqui, onde um manto de nuvens derrama céu em água, a cada dois dias, para voltar a pertencer a este chão. Aqui, é através destas crianças que a Natureza traz as pessoas à vida. A Terra é mais larga no seu Equador e só isso é uma vantagem imensa.

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