A fé dos povos

No início de qualquer reunião rezavam. Já não estranhamos que o agradecimento a Deus preceda qualquer outra tarefa: dizem que o Criador ao ser invocado abençoa a atividade que se seguirá. E ousar defender que Deus não nos ouve em prece, é o mesmo que dizê-Lo noutro ofício e, portanto, quem sou eu para questionar as Suas rotinas? Salvo a Sua amplamente conhecida omnipresença e julgaria pouco compreensível que pudesse ocupar-se em simultâneo de todos quantos em oração , (que calculo que seja) embaixo, na Terra. Em geral, olhamos para cima devido à amplitude do céu estar porta com porta com a terra da imaginação (imagino que na continuação do relvado da terra dos sonhos de Palma) mas, para cumprimentar esse “Nada” com dimensão de “Tudo“, a lonjura do mar, com aquela reta perfeita ao fundo pronta para escrever quimeras, parece-me igualmente inspiradora. E vivemos momentos nessa visão, calando o mundo exterior, à procura que Deus assista e responda.

A fé é uma roupagem que, animicamente, nos envolve e conforta nas épocas de desnorte. A fé é um sentimento de quem confia absolutamente e não importa em quê ou em quem. Podemos passar uma vida a confiar n’Alguém que nunca se vai conhecer. No Oriente, vi centenas de sandálias e sapatos à entrada das mesquitas e multidões descalças orando sob um tapete, ao soar dos minaretes, sete vezes por dia. Os homens seguem encaminhados pela sua incontestável fé. Mas confiam porque sentem essa espécie de verdade que os conduz. Eu tenho muitas coisas diferentes em que acreditar: desde a força sagrada da Natureza até mim, pela voz interior que me guia, e em algo do domínio do divino que tem a ver simplesmente com a conexão com as outras pessoas. Se calhar faz tudo parte da mesma orquestra, porque o sagrado engloba com certeza uma vasta teia musical, no lugar anímico que nos espreita (calculo que seja) de cima. Acho que o que quer que esteja regendo-nos, está para todos, independente de termos mais ou menos confiança, ou até puro desconhecimento. Há-de haver mais coisas entre o e o do que aquelas que vemos e sabemos. Resta-nos acreditar em nós e nas nossas próprias verdades que a vida vai trazendo. As hipóteses do que haverá são ainda mais misteriosas do que o mistério de onde se parte aqui. E a maior verdade é magnânima, pelo menos assim confio, sem palavras.

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