Mães-poema

Vejo mães que carregam filhos, ou filhos levados nas costas das mães. A misteriosa infância no dorso delas é o que tento fotografar. Nenhuma vida no mundo tanto se acautela. São nobres raparigas apertando o tecido contra a barriga como quem amarra um sonho. Um imenso sonho de primavera e pólen. E abate-se um amor sem peso como um sol mais vivo só delas. Os filhos são o braço dessa luz, com cheiro de flor.

(As palavras vão à margem direita sem levar a proeza das mulheres. Terminam a linha e voltam atrás, como estafetas, no ofício de fazer crescer o texto, chegarem ao fim. Tento em prosa tomar por tema a luz na cara das mães destes seres-auréola antes de nascerem. Filhos como estrelas que se antecipam nos rostos-cometas delas. E procuro confundir as palavras.)

Imagino as mães grávidas que nutrem os filhos, primeiramente, desde o interior. Navega um segundo coração que cresce, e a sua compassada alegria que já é vida palpita. São dois corações e mais luz que se espelha no rosto, anunciando a explosão súbita. À hora não anunciada, a cria desce do ventre em milagre. Acendendo seus olhos negros à nova verdade. Gritando à primeira voz. As mães apanham-nos nos braços. Mulheres-fonte que a cada filho nunca mais seguem sós.

O amor cristaliza na fotografia. São mães que levam filhos, e filhos que levam mães. A poesia invade o sistema pois nessa missão as mulheres são mães-poema.

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