Amor e uma cabana de colmo

No Tangi Safari Lodge, a 5 minutos do parque do Murchison Falls, o alojamento é composto de pequenas cabanas africanas de telhado em colmo, despojadas de luxos, sem vidros, e sem eletricidade até às 6 horas da tarde. Depois, ligam o gerador e a água vai aquecendo através de um chuveiro elétrico. O jantar é combinado com antecedência e há até um DJ a animar o serão. Por essa hora, brindamos com Tusker Malt além da conta, mas brindamos à vida. No final do jantar, a conta é entregue na ponta de um cajado. Pensei na originalidade destas pessoas, ignorando o odor devasso da nossa civilização, as nossas vidas mecânicas lá longe, entre o cimento, o bulício, a pressa, e a poluição da cidade.

O pequeno percurso até às cabanas não está iluminado senão pelos poucos pontos altos de luz onde as traças dançam furibundas em busca da lua, desorientadas, e exauridas até ao outro dia. Mais acima, o tecto do parque faz desabrigar as estrelas mais puras e brilhantes que a noite pode conter. Antes de dormir é preciso estender bem a rede mosquiteira, porque a noite traz todas as outras criaturas que rastejam e se abrigam ao primeiro buraco e com nenhumas noções de propriedade. Ao raiar da manhã o barulho dos insetos acordados trespassa o arame das janelas, da porta, mas a verdade da paisagem é impossível de captar com câmaras: as matizes da alvorada africana são impraticáveis de imitar com filtros. Mesmo antes de abrir a porta, sopra muito levemente uma brisa com aroma doce de terra húmida e plantas florais, como um primeiro beijo da manhã tocando-nos o rosto. Vejo o sol sonolento empurrar as nuvens ao longe. Todo o amor é idílio e o firmamento esplendoroso da manhã africana é o mais belo poema que se pode desejar conhecer.

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