Encontrei-o na baixa da cidade de indumentária natalícia, numa espécie de missão de abraços. “Que simpático!” pensei, mas não era bem a palavra… seria certamente outra a terminar em inho. Não me ocorreu pensar em diminutivos. Foquei-me na figura de lã cardada em forma de boneco dotado de movimento, sem máscaras, e de rosto sorridente ao ar. Amável, porém, de uma forma meio-caducada, meio-aprisionada, própria de quem não tem a liberdade para deixar de sorrir se quiser. E isto beliscou-me aquela parte em nós que não confia. A boa notícia é que, por esta altura do ano, não há estranheza alguma para o brilho que se vê excedendo-se constantemente em tudo: as luzes de Natal no exterior das varandas, das janelas; as bolas de festa pendendo as suas cores, e tantas outras pequenas centelhas que se repetem a cada ano. E é bonito. Bonito que tudo esteja em jeito de enfeite e a piscar. Assim não temos de aguardar a noite para olhar o céu. Cheira ao dourado da festa e ao calor do serão em família com as lareiras em atividade.
Mas então lá estava ele, de fato duplamente encarnado; primeiro, daquela maneira à vista de todos e encarnado também na personagem da Disney. Na verdade era uma dupla: primeiro o fotógrafo criara as circunstâncias, dinamizando o encontro. Aparentemente bom no seu ofício, detendo-me o passo após uma hora de caminho. Portanto, tirei os auscultadores destapando os ouvidos para o entender melhor enquanto se aproximava. E entre esta abordagem e o travar-me propriamente dito, senti que terão passado cerca de 4 segundos. Mas bastou apenas 1 (um segundo) para tomar a decisão de me deixar ir, incluindo a parte de dirigir o sorriso à câmara. Porque, esse já eu o trazia desde que havia avistado, alguns passos atrás, os bonecos animados no centro da cidade.
Diante disto, penso que devo ser uma pessoa sensível à graça que a vida tem. Cada dia a minha cara e eu se revelam. Somos hóspedes de excelência da alegria – não só de hoje – mas de todos os dias. E espero que isto brilhe de fora porque sente-se por dentro, em lugares que ironicamente nunca iremos ver em nós. Não é algo a que possamos deitar a mão; mas é tão valioso que quero dividir para que se propague e aumente. Então percebem que tenha decidido seguir ao sabor da magia circulante da quadra. E com um passo à direita encostei-me ao Mickey, oferecendo-lhe metade do abraço. E assim se deu o disparo que vemos aqui. Curioso o que pensei depois: dei meio abraço sem olhar realmente o olhar de quem abracei. E isto não é uma coisa qualquer. É respeito pela pessoa sem medo de ser miúdo lá dentro do seu fato vermelho. Por isso, sorriam, abracem os vossos Mickeys e reparem como o Sol ainda brilha melhor depois.