Jerusálem

Passar a fronteira entre a Jordânia e Israel, foi o começo de uma grande aventura do final de 2019. Por isto, e por tudo, tenho de ser grata à vida. As experiências pouco planeadas como foi esta incursão na Cidade Santa plantada nas montanhas da Judeia, que aconteceu na manhã de uma outra noite passada na Jordânia, dão um sabor especial ao meu dia. Tudo começou com uma hora de táxi desde o hotel em Amã. Seguiu-se o serviço “VIP” que facilita a travessia evitando os autocarros, e torna o processo muito menos moroso. (A sala de espera não faz jus ao nome. Trata-se de uma área de sofás em napa e pequenas mesinhas onde nos servem café arábico ou chá, e onde nos sentamos à espera que nos chamem pelo nome.) Mas depois de entrarmos na van, percebe-se a vantagem da diferença de valor atribuída ao serviço: o motorista encarrega-se de mostrar os passaportes nas diversas instâncias de paragem até Israel e as patrulhas na fronteira apenas perguntam directamente se transportamos armas. Depois, o trajecto é feito de montanhas de rocha, áridas, quase sem vegetação, que se vêem fora do arame farpado, numa extensão de quilómetros. No terminal em Israel, o processo é complexo porque o inquérito é rigoroso. Convém ter o booking do Hotel em mãos para justificar o propósito da estadia, mas há assistentes americanas com aspecto de trainees a facilitar a chegada ao país. Finalmente é concedida a autorização de entrada (através de cartões com o visto independentes do passaporte) e pode apanhar-se um táxi directamente dos serviços no terminal e seguir até à cidade antiga, escolhendo uma das portas. Damascus Gate, tornou-se o meu portão de entrada no quilómetro quadrado mais interessante do mundo. Porque as muralhas que circundam Jerusálem escondem os segredos de um lugar controverso, instável, que alberga 3 religiões entre empedrados com 5000 anos. A atmosfera em redor dos pontos mais visitados é contagiante. Principalmente, junto da Church of the Holy Sepulchre. Mas o ponto imediatamente reconhecido (visível da via rápida, junto à vedação com a Palestina que também se vê) é a cúpula dourada da Rock of the Dome. Um lugar vedado a não-muçulmanos. Além dos pontos edificados repletos de significado, existe uma outra energia inesgotante que é a das multidões, e, atrás das pessoas, as portas abertas que ladeiam as ruas estreitas por onde as pessoas passam: o brilho colorido organizado das lojas de souvenirs; e a fruta liquida servida num sumo acabado de fazer; os tecidos; as fotografias de época; a originalidade dos objectos que só se encontram ali. Depois de experimentar o sabor da cerveja israelita, paramos no bairro Judeu, ao lado da Sinagoga para almoçar. E observar melhor o rebuliço geral naquela mistura particular de pessoas, perceber o seu estado de desenvolvimento, ver a satisfação entre os jovens que cantam e dançam, e os outros que parecem carregam nas feições uma tristeza antiga. Mas há nestes uma atmosfera espiritual que se percebe na própria postura do corpo que anda. Alguns grupos identificados com as mesmas vestes e cartões de identificação “Pilgrims to the Holy Land“, assumidos seguidores de doutrinas religiosas em procissão. E encontram-se pessoas diferentes, nos diversos quadrantes. Muçulmanos (desde o portão onde entrei), cristãos, e judeus, incluindo os mais ortodoxos que, ao entardecer, se identificam melhor a caminho da Western Wall para as suas preces. Fora das muralhas, continua a haver movimento na Torre de David em frente à Jaffa Gate com uma lua já presente no céu. Famílias judias caminham juntas. E experimento a fotografia em preto e branco para os devolver ao tempo a que ainda parecem pertencer. Atravesso as letras do amor por Jerusálem no caminho para o Hotel com o coração cheio. E depois de todos os sons do dia encontro um piano já a dormir no meio da praça, onde se lê (em francês) a palavra Obrigada.

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