TeamLab Planets, Tóquio

Quando acabou a experiência pensei que tinha sido uma espécie de curta participação no Matrix. Porque foi, sem dúvida, uma vivência artificial para os sentidos. E, de cada vez que recordo esta parte da viagem ao Japão, penso que no TeamLab Planets existe um pedaço de futuro materializado que nos é apresentado como já parte do presente. Porém, é um amanhã um pouco antecipado em resposta ao conhecimento enquadrado que se recebe durante anos a fio, provindo dos filmes de ficção científica. De qualquer forma é uma vivência por dentro, não de mero espectador para a qual não nos preparamos mas que, simplesmente, se acompanha enquanto já está a acontecer. Apanhamos vários transportes públicos para chegarmos a tempo, porque a marcação tem de ser prévia e os bilhetes são apresentados à entrada via QR Code no ecrã do telemóvel para nos permitirem o acesso nos torniquetes do lobby. Antes de iniciar o programa, as instruções são claras: será necessário deixar o calçado nos cacifos disponíveis na primeira ante-câmara mas temos de nos descalçar ali na entrada. A organização japonesa impõe que nos posicionemos a igual distância dos outros visitantes (há o desenho de pés equidistantes gravados no chão para indicar o lugar de cada um) enquanto assistimos ao vídeo de apresentação. A seguir, há que arregaçar as calças até aos joelhos. Levámos uma pulseira com a chave no pulso e um dispositivo para fotografar. Seguimos para a experiência. A primeira sala são alcofas gigantes como obstáculos para ultrapassar. Acho que fui a única pessoa que conseguiu manter-se de pé, mas após a queda parece impossível voltar à posição de pé para caminhar. As pessoas riam ultrapassando as enormes almofadas onde os corpos se enterravam, tentando gatinhar em frente, na direcção da porta. Depois, seguiu-se um corredor onde a água morna pelo meio da perna nos emerge e convida a continuar. Parece um jogo de surpresas a antever-se após cada porta. E passamos para o nível seguinte, sem saber o que encontrar. A luz não é intensa, é, pelo contrário, serena. De repente, estamos num plano de espelhos que nos multiplicam nos diferentes planos que nos precedem e antecedem vários níveis abaixo da viga de espelho que parece transparente onde me assentam os pés. Olhando abaixo e o que se vê é a ficção multiplicada em escala de quem temos em redor. Do tecto, caem fios de luz que decoram o ambiente onde não devemos tocar. E, como um todo, o espaço apresenta-se com milhares de correntes de pontos iluminados dispostos lado a lado concentrados também a uma mesma distância mas criando corredores estreitos vazios em jeito de labirinto que nos permite atravessá-lo até se alcançar uma sala ampla que se sugere gigante. Os objectos nesta sala são também mosaicos feitos de espelho, paredes erguidas com liambas de luzes que alteram a cor e o ritmo com que a cor se apresenta, e há ainda as outras pessoas em movimento. Existe também a omnipresença da música instrumental relaxante e que ajuda a esvaziar a mente e que também transforma o ambiente. Por vezes, as luzes das cordas-pêndulo desaparecem e a cor geral muda para azul, verde ou violeta engolindo-nos. Então, misturamo-nos nela, no meio das outras pessoas, que utilizam o mesmo espaço mais ou menos da mesma maneira. Na entrega do momento, procurando as fotografias mais originais. Na realidade, é o apelo da hashtag a comandar também o que fazemos. Cada vez mais me apercebo disto. Colectivamente, nos tempos de hoje, encenamos muito as nossas posturas e a expressão numa tentativa de combinarmos bem com o cenário, até a foto parecer especial. Jogando connosco, a pose e a fluidez do corpo, e o resultado reflectido nos espelhos. Perdemo-nos a avaliar a verdadeira dimensão do espaço, porque a ilusão do vidro não nos ajuda a discernir a real capacidade física do armazém onde o laboratório se insere e que só vemos com clareza do lado de fora. Por dentro, mais salas se sucederam: a piscina arco-íris enevoada com carpas feitas de luz e de cor numa velocidade e condição de stage projecting mapping sobre água, com pequenos recantos para assistir a curtas metragens de telas sem estória, ou de estórias de telas que podíamos fabricar enquanto espectadores assistindo dos pequenos bancos; depois, a sala dos balões redondos gigantes onde nos escondíamos a cada cair das bolas, sem qualquer percepção da localização das portas de saída para reaparecermos pela acção das ventoinhas elevando as bolas sucessivamente; e, no final, o enorme open space de flores voadoras, folhas e pássaros que saíam do chão, atravessavam as paredes e sumiam no tecto, camuflando-nos, deitados no chão como se o céu fosse diferente feito de estrelas diferentes num universo nunca visto, fazendo-nos prolongar o momento, demorando-nos na experiência, registada na forma de video ou na energia instantânea das fotos.

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