Saí da estação de comboios para encontrar Tóquio antigo. O buliço do movimento humano deslocado da contemporaneidade da megatrópole. Não esteve frio mas foi um dia de chuva miudinha em Asakusa, com as horas a passarem rápido. As pessoas vinham em bloco, e não se pode caminhar depressa nestas circunstâncias. Mas já sabia que Asakusa é uma espécie de lugar de regresso ao passado. Há tradutores que se disponibilizam gratuitamente a guiar-nos pela cidade. Talvez seja um programa de estágio para acumularem horas enquanto guias. É melhor dizer que não com alguma firmeza e seguir caminho, do que mostrar incerteza, pois a dúvida deixa-os por perto com olhar persistente. A paisagem aérea do Asakusa Culture Tourist Information Center permitiu antever a concentração colorida da gente em passeio na Nakamise-dori: os cerca de 250 metros pedonais entre o Templo Sensoji Kaminari-mon e Hozo-mon. Quase 100 lojas com um pouco de tudo o que o Japão tem à disposição: Quimonos e todos os acessórios, gatos dourados, pretos e brancos, a abanar a patinha esquerda, lanternas, chás, cerâmicas, leques, postais, chapéus de palha em bico, doces tradicionais japoneses, e centenas de diferentes outros motivos para levar recordações. Havia meninas e casais de quimono vestido um pouco por todo o lado. E, de maneira geral, as pessoas demorando-se no ofício de se fotografarem. Abordar as japonesas para acompanhar uma fotografia foi outra experiência com resultado feliz. Apesar de tímidas, aceitam e posam, sorrindo. Nas ruas paralelas, na zona dos jardins e dos templos, a oferta das bancas com sumos e petiscos permite que se desfrute de uma espécie de almoço volante: provei uma espetada de polvo bébé, uma das melhores experiências gastronómicas da minha vida da qual não me orgulho. Os templos são muito visitados independentemente da hora do dia, mantêm as portas abertas mas pedem para o calçado ficar à porta e para não se fotografar as alas interiores budistas e xintoístas. O exterior só por si surge transbordante de sinais por onde é possível derivar a atenção. Há também demonstrações de artigos para vender e animais a aguardar donativos em troca de fotografias, como simpáticas corujas que aparentam estar em estado mais domesticado do que selvagem. Outros elementos de carácter mais espiritual de paragem obrigatória são os refúgios com água corrente para higienizar as mãos de forma tradicional e os quiosques onde o incenso é queimado para nos purificarmos. Com o avançar das horas, algumas das lojas encerram as portas e baixam as persianas para revelar novas montras com os magníficos desenhos a retratar a história de Sensoji e as quatros estações. Um espetáculo nocturno diário permanente chamado Persiana Hekiga Asakusa Emaki que quer dizer “Persiana-mural de Asakusa em sucessão de imagens”. Imagens com estórias ilustradas, mas são histórias que se contam melhor com todos os elementos. A lanterna de 4 metros de altura, suspensa na porta de Kaminarimon, a personificar o horizonte de milhares de fotografias que se levam dali. Ao lado, o chinelo Zori gigante em palha de arroz que inspirou as Havaianas. Os paliteiros gigantes que se abanam para sair um pauzinho, mas só depois e inserir a moeda na ranhura da base, depois identificar o símbolo do pau sorteado na gaveta gémea, e retirar a fortuna. Se a sorte não for boa, pode amarrar-se o papel no local para desfazer o destino. A seguir, a caminhada continua. Há que atravessar o rio Sumida, pela ponte vermelha de Azuma seguindo a chama dourada The Asahi Flame a caminho da torre SkyTree para ficar muito mais perto do céu.
