Dears Deers, de Miyajima e Nara

Os veados vivem livres em Nara e em Miyajima e eu gosto disso, porque a liberdade é uma palavra que representa este conceito mais elevado, com um significado extremamente importante para mim. E, vivendo atualmente num país, onde este direito não existe como o conheço, ainda me faz mais sentido escolher as minhas férias em lugares onde me posso sentir mais ciente das minhas convicções. E se liberdade é esse direito de fazer como me pareça melhor, desde que não colida contra o direito de um outro, é também essa a razão, da fotografia destacada neste post mostrar o cenário tal como estava, quando me aproximei do veado que descansava, por acaso e sem ele saber, num lugar idílico. Podia ter pedido à senhora que se desviasse e teria uma fotografia mais composta. Podia ter pedido à senhora que se virasse de frente e teria ficado na fotografia provavelmente eternizando um sorriso comigo. Podia ter esperado que abandonasse o local antes do veado, e seria a oportunidade de ter outra pose em vez desta com o Torii mais presente atrás no horizonte. Mas eu gosto desta imagem por não ter arranjos de estúdio. É o retrato do cenário tal como estava sem enfeites de artifício. Uns metros à frente, um fotógrafo profissional, ocupa-se em registar os elementos perfeitos e a fila de aderentes é grande. Para isso, existe um veado de serviço. Não gosto de ver os animais a trabalhar mas cada vez me apercebo mais disso, em todo o mundo que visito. Estes bambis já estão habituados aos humanos e às nossas manias de Instagram. Mas, se virmos com o coração, há lugares como este que tresandam a magia e não precisam de quaisquer adaptações em nossa conveniência. Não é suficiente a razão para que desviemos os animais da sua tranquilidade. Não é preciso arranjar a foto perfeita mas é necessário não perder o respeito devido à natureza. Em Nara, existem quiosques “Deer cracker” a vender bolachas para oferecer aos veados, porém, eles não parecem interessados, nem famintos. Nós é que nos posicionamos sedentos das melhores imagens para mostrar aos outros e publicar online. É a realidade dos tempos que vivemos, e se calhar vale a pena refletir no rumo que as coisas estão a levar. Talvez o mundo exterior seja um espaço colectivo onde nos podemos incluir sem alterar nada e cujas fotos possam, da mesma maneira, ser a tradução instantânea de grandes recordações.

 

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