Búzios para ouvir o mar ao ouvido (Brasil)

Tive a sorte de viajar com um amigo brasileiro até Armação de Búzios. O que se verificou a melhor companhia do mundo, depois de ter sobrevoado sozinha o oceano inteiro que separou, naquele fim de Outubro, o Porto de Portugal do Rio de Janeiro. Lembro-me de rir muito no caminho que fizemos de carro. Eu perguntava pelos animais que víamos  das janelas a ficarem para trás e ele a responder: São búfalos. Ensinando-me que, afinal, havia búfalos no Brasil. Ele falava muito de si, da sua vida, dos seus projectos. Eu sempre fui boa ouvinte. Não me lembro em pormenor mas a viagem fora tão rápida que há-de ser verdade o que se diz: o tempo flui se estivermos bem. Quando chegamos, percebi que Búzios era um conjunto de muitas praias. Praias quase desertas por estar vento, ou, dito de uma outra maneira, paraísos adiados para dias mais aprazíveis. Esta fotografia tiramos na praia da Tartaruga. Não estava frio mas foi lá que o vento ficou para sempre a desarrumar-me o cabelo na cara. Gosto desta maneira que o universo inventa de dar vida às coisas invisíveis. Ainda confere mais sentido às fotografias. Estava então uma tarde amena com vento, e ele disse o nome dos vários areais que visitamos. Em comum, havia sempre a vegetação, do mesmo verde, estendendo-se até à água, emoldurando as piscinas de areia e mar. Entretanto, o sol pôs-se ao fundo, num panorama habilidoso de lonjura, vermelho e quente. A seguir, na praia da Armação, sentei-me no colo de bronze da Brigitte Bardot, que por lá está, eternamente jovem, absorta do resto e em contemplação do vaivém das ondas e dos barcos coloridos que flutuam em frente. Depois de visitarmos algumas das praias, ao abrir da noite, fui à zona mais central experimentar bikinis. Os dois que comprei eram tão brasileiros que foram sempre parcos em pano para usar no resto do mundo. Jantamos crepes no Chez Michou antes de regressarmos. O meu amigo não esgotava assuntos, percebi-o bem entrosado e a gosto na vida política brasileira, recheado de projectos sociais que contribuiriam para a melhoria das condições das populações menos favorecidas daquele país. Estas partilhas de ideias altruístas, de projectos que fazem sentido e de sonhos, alimentam bastante o meu imaginário. Muita matéria para despistar o silêncio. E, nesta viagem, não precisei, afinal, de ouvir o mar que assobia escondido dentro das conchas.

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