Tive fases na minha vida nas quais me interessei bastante por cidades cosmopolitas, repletas de pessoas, encontrões, a pressa dos outros, cores nas ruas, montras, carros, trânsito, ruído de trânsito. Nessas alturas, dei comigo, a visitar museus a horas improváveis, que é quando acredito não estar ninguém. Um ensaio de contraste ou a procura de pessoas feitas da minha mesma substância. Em Londres, por serem gratuitos, os museus tornam-se lugares de regresso provável quando o investimento é apenas o nosso tempo. E, nestes locais, se forem de arte contemporânea, eu deixo-me ficar em modo suspenso: vou de encontro à oportunidade de me rodear dos símbolos que me dão prazer por afinidade com aquilo que eu sou. Quando penso no que é a arte, penso na vida em geral, e em comunicação. Considero linguagens de descoberta que remetem para o pensamento, para as emoções, pelos sentimentos que as obras transmitem. Quando era adolescente gostava muito de exercícios criativos quando visitávamos exposições. Eu olhava para uma obra e tentava atribuir-lhe um nome, para avaliar depois a distância em relação ao título verdadeiro. Uma aferição de resultados como um jogo sem resposta certa. Ainda hoje o faço. Mas ao longo da vida, fui procurando compreender melhor este fenómeno de querer perceber estas representações artísticas, e de todas as artes, em especial, gosto de me conectar à pintura. No TATE, houve diversas oportunidades para me desafiar. Ligando-me mais ao abstraccionismo, e ao surrealismo. Ou seja, aquilo que sugere alguma alienação terrena e me permite vaguear, filosofando ao sabor da minha própria criatividade porque face a essas obras nada é representado de maneira realista. Se pudesse escolher um artista, seria aquele que me providencia mais espaço para sonhar, ou antes, mais caminhos para viajar neste cosmos infinito das emoções. Há muitos pintores, mas um só Rothko. E os seus quadros não foram sempre as enormes telas com rectângulos que visualizamos ao pensar no seu nome: ao longo da sua própria evolução, ele foi retirando os obstáculos da sua pintura. E isto foi conseguido criando ambientes através de rectângulos de arestas difusas, libertando a ideia representada entre ele próprio e o observador (público), expressando as emoções humanas mais básicas. Provocando, para quem encara a obra, um abalroo ou experiência religiosa, devido à omnipresença da cor departamentada nas suas telas. A oportunidade de nos sentarmos num banco em frente a um ambiente Rothko, é semelhante a imergir num mundo paralelo complexo, reinventado para o observador que escolhe dialogar nessa dimensão espiritual. Pode ser a ocasião para nos redescobrirmos durante aqueles instantes que, ali, sem se dar por isso, nos transformam. Eu já vi Rothko noutros países mas acho que, por causa desta influência que tanto me apraz, de forma não muito consciente fui polindo a confusão das cidades através da fotografia. Por exemplo eu, nos jardins de Westminster, posso ser um largo rectângulo verde, com um outro ocre em cima e o céu certamente será um ligeiro rectângulo azul.
