Atravessando a Baía de Guanabara, pela ponte ou pelo ferry-boat, deixamos o Rio para trás. A própria travessia permite uma perspectiva nova da cidade: as suas montanhas, o morro da Urca espreguiçado no mar, o Pão-de-Acúcar impondo-se à frente, o Corcovado pequenino mas indelével nas recordações, e a vista adiante de Niterói que se pretende desvendar. Para melhor aproveitarmos estas várias lindas paisagens, é preferível despender os 20 minutos que a barca demora pela baía e, com sorte, ainda cumprimentar Iemanjá. Depois de desembarcar, há pontos de interesse com cunho português, como a Fortaleza de Santa Cruz, mas, é no Mirante da Boa Viagem que se encontra atracado o edifício que me leva ali. Ei-lo então a dissociar a paisagem da cidade, fosse qual fosse a cidade, fosse qual fosse o lugar, completamente insólito, extraordinário, excepcional: o MAC. O meu museu de arte contemporânea preferido do mundo. Projectado por Oscar Niemeyer, e sem precisar de mais apresentações. Quisera ser uma espécie de flor ou taça mas, aos meus olhos, desde o primeiro instante, um disco-voador. É preciso fazer uma pausa, para pensar no nome do local escolhido que, quanto a mim, não poderia ser mais bonito, nem ter um nome mais bonito do que: Mirante da Boa Viagem. Um miradouro com desejos de bonança, perfeito para deixar um disco, ou esta espécie de semi-pião de cimento que parece girar em cima da água. A arquitectura da rampa de acesso permite admirar a obra de vários ângulos, mas é no seu interior que se percebe a genialidade do arquitecto. Há janelas de vidro, inclinadas numa faixa central, que circundam toda a extensão do edifício e permitem apreciar a paisagem do Rio de Janeiro, as vistas para a baía e para Niterói. O piso é em alcatifa, por isso, sentimo-nos convidados a passear descalços, na experiência de, confortavelmente, deambular entre as obras expostas e, descansar na plataforma junto às janelas, desfrutando da beleza exterior e da do próprio museu. Apetece ficar ali, a percorrer o disco em círculos, porque ele não vai decolar mas nós, se quisermos, podemos continuar a girar e voltar a girar, como naquele samba dos Tincoãs.
