Em Zanzibar, o nascer do sol acontece pelas seis da manhã. O amarelo irrompe muito tímido do mar. Enquanto as matizes de lilás, que saem de dentro da noite, vão tomando conta de tudo. Podemos ver o reflexo do sol, espelhando-se na água, em crescendo. E, do lado do céu, é um justo ponto de exclamação. Também eu me admirei com a extraordinária beleza de uma areia branca, ainda morna, que nos faz descalços. Os pescadores, que madrugaram muito antes da ilha, passam na horizontal ao longe. E o Índico azul-paraíso vai empurrando os seus cabelos de algas para a margem. Cheira a maré, cheira a novo dia. Em Zanzibar, enquanto esperamos o sol aparecer, há crianças que passam na praia sem estarmos à espera e param para conversar. Meninos sem horários, sem medos e muito cheios de liberdade: são eles os pescadores de amanhã. Em Zanzibar, não há dia nem há noite sem acasos. Aos poucos, a praia refaz-se da escuridão. As algas vadias entretanto secaram largadas na areia. O Sol senta-se no seu trono ao fundo e o dia acontece. Então, naquela geografia, cheia de ausentes e cheia de luz, percebemos que ninguém é dono de nada.
