O Adhan na Jordãnia tem uma sonoridade mais suave. Porque é um país também mais leve, mais solto. É, como eu já disse aqui, uma bandeira que se levanta para dançar. Onde parece mais fácil ser feliz. E ir ali é perceber que a serenidade também existe no Médio Oriente, onde as crianças afinal sabem sorrir. Onde as cores são mais vivas e as pessoas menos escondidas nas suas vestes, como se se pudesse ser melhor aquilo que se é. Talvez seja apenas um pouco mais de liberdade com que se caminha nas ruas. Ou a história de um passado que se celebra a céu aberto. E outra estória desde as montanhas até Madaba, com a cor castanho-clara do monte e Oliveiras agarradas à terra que não nos deixam esquecer que não precisamos de nada, além de braços para nos equilibrarmos firmes nos nossos corpos e que esse tanto seja só Amor. Porque Madaba é um lugar espiritual. Visitei a igreja grega de pedrinhas coladas de mapas-mosaico no chão, para ter uma primeira experiência ortodoxa. E senti-me mais alinhada com a vertente herdada do império bizantino do que com a talha dourada e o relevo trabalhado das figuras bíblicas a que me habituei a fugir no catolicismo. Já os sabores da Jordânia ficam na memória. Haret Jdoudna é o sítio obrigatório que se encontra uns cem passos à esquerda se estivermos a sair da igreja, e atrás de portões largos em madeira numa espécie de jardim interior, num restaurante que nem parece um restaurante (como ele o descreveu), enquanto procurávamos esse lugar para almoçar. Madaba é também lugar de carpetes, de artesanatos, de mashadah vermelho e branco (e é assim que se coloca: 4 voltas no mesmo sentido e pousar nos ombros), malas com motivos de camelos e deserto. Uma cidade com ruínas de impérios distantes semi-perdidos pelo tempo e semi-recuperados, sobre os quais se contam lendas. É uma cidade pequena que recebe e encanta. Amã, mais tarde, tem muito mais para surpreender, há a desorganização e o ruído do trânsito, o turbilhão dos táxis, mil e uma lojas abertas, as gentes que ali chegaram e que agora ali pertencem, a mistura da religião, a contaminação americana das t-shirts e dos bonés que falam de globalização, o pechisbeque dos antiquários egípcios à mostra nas montras da rua, e, a contrastar, os pozinhos de areia colorida dentro dos frascos acabados de fazer para recordação de algo tradicional mas logo, ao virar da esquina, o esplendor do anfiteatro romano. E fico a pensar: Quantos mundos dentro de um pequeno espaço de mundo?