Não é possível antever a primavera muito antes da viagem. Mas recorrendo ao site Cherry Blossom Forecast consegui planear onde ver esta poesia antes de apanhar o primeiro avião. Partindo de Tóquio, foram mais de 6 horas e meia de comboio rumo a Norte, para cumprir o sonho. Algumas mudanças de estação, para trocar de linha, com algum tempo de espera, e no final o serviço local de autocarro, para finalmente chegar ao Hirosaki Park. Depois da arcada à entrada do parque, o esplendor da primeira cerejeira em flor, plantada em 1882, com uma multidão a homenageá-la. Uma pintura da natureza em jeito de boas-vindas. Mas em todo o parque, olhando acima, as pinceladas em rosa-pálido, pontilhando o espaço com o céu por trás. A poesia desabrochada pendendo dos troncos. E à passagem do vento, as pétalas caindo como se nevasse. Lentamente, o chão a ganhar a cor das árvores. Não sei se todos reparavam melhor no chão ou nos galhos, mas as águas que correm ao lado do parque carregavam também as pétalas dos últimos dias acumulando-se com as acabadas de se desprender das árvores. O parque estava repleto de pessoas, talvez por ser domingo: os que caminhavam e grupo e a sós; os que se reuniam a fazer refeições com tapetes de plástico a proteger o chão por baixo, os outros que cantavam e tocavam música, e os que tiravam fotografias, ora parados ora a caminhar. Sentia-se uma atmosfera de alegria em ali estar, por ser realmente bom poder testemunhar tamanha beleza, e, ao mesmo tempo, compreender a sorte de comungar com a natureza a sua obra linda e tão frágil que se presenteia em ciclos, levando multidões a si. E é tão bom pertencer a lugares bonitos, mesmo que seja apenas ao cabo de algumas horas, para a seguir, deixar seguir a vida com um sabor novo, e um pó de felicidade espelhado no rosto.
