Estou a viver na Normandia há 20 meses. E existem muitos pontos de interesse relacionados com o Dia D e com a Segunda Guerra Mundial. A comuna de Sainte-Mère-Église, ficou célebre por ter sido a primeira a ser libertada pelos aliados. No lado de fora da igreja existe ainda um manequim pendurado em homenagem a um páraquedista americano que, ao cair, ficou preso na torre, tendo sido capturado pelo exército alemão. Em Colleville-sur-Mer, localiza-se o cemitério militar americano onde foram enterrados milhares de soldados norte-americanos. Este é um lugar solene, grandioso e compassado geometricamente, mas os jardins fazem esquecer que se trata de um lugar onde estão sepultados homens. Na América, os cemitérios são matemáticos e este não é diferente. O minimalismo verde-relva e branco-paz fazem do terreno um espaço onde crianças podem brincar. E, a alguns palmos abaixo da terra, cada um fica igual a um outro, nem mais nem menos. Acima, uma cruz branca sobre a relva. Bonito sob todas as perspectivas. Sem hierarquias como em vida deveria ser: ashes to ashes, dust to dust pois corpos são corpos mesmo destes heróis de guerra. Por causa deste ambiente limpo, há poesia o que é comovente. Aqui e ali vê-se uma rosa tímida encostada a uma cruz. Detalhes que se perderiam noutros lugares. Os militares caminham alinhados e nós vamos prosseguir em direcção ao mar, até às praias do desembarque. Ao longo da costa da Mancha, há vários museus alusivos aos acontecimentos da época e monumentos. A escultura Les Braves da artista Anilore Banon enquadra-se inteira nas nossas fotografias enquanto a maré deixa. Ensaiamos o mesmo panorama com muitas pessoas, e minutos depois sem ninguém, para terminarmos lá ao lado, pequeninos, em frente a um mar imenso onde desembarcaram um dia mais de 160 mil homens. A 6 de Junho comemora-se justamente a vitória das forças aliadas. O verde-tropa inunda as ruas. Os carros-patrulha começam a aparecer com as pessoas trajadas para festejar. Pedimos autorização para entrar nas viaturas e ninguém leva a mal. O mundo é livre. A Europa é livre. Somos livres. As bandeirinhas americanas fazem esquecer que estamos em França. Resta entrar no espírito do dia e comemorar. Depois almoçamos para brindar à paz que nos deixaram tão bravios soldados, e o cão da cruz vermelha fica do lá fora a guardar.
