Funny Birds e Os Mercados de rua no Uganda

Dizem que África é toda igual mas não… Eu não concordo, eu acho que é mesmo tudo diferente. E há sempre aprendizagens para fazer; basta sair de casa e observar à volta. Por exemplo: nos mercados de rua ugandeses (que existem em todas as esquinas), podemos encontrar Rolex mas nem tudo é o que parece. Aqui, trata-se de um snack de pão indiano enrolado com recheio de omelete que já se tornou uma iguaria nacional. E, além deste, há outros mal entendidos para degustação: Assim que paramos o carro, vêm tentar vender-me nacos de carne em jeitinho de espetadas de galinha mas que, naturalmente, também escondem alguns mistérios. Em conversa com os locais com quem fui ganhando confiança, acabei por me informar que normalmente são vendidos “Funny Birds” em lugar de chicken sticks. Faltava saber que gatos são estes que nos querem fazer passar por lebres… As pesquisas na web, dizem tratar-se de abutres! Portanto, a parar ao pé da estrada, continuarei a optar sempre pela saborosa fruta por descascar desta “Pérola de África”, como bananas Matoke e ananás. Em todo o caso, são estas paragens ao longo do caminho, que nos permitem conhecer os ugandeses. É assim que aprendemos a decidir que são um povo simpático, curioso, e que não se inibe de se chegar a nós para conversar. No escritório em Kampala a interação é mais filtrada, pode haver algum assunto que nos melindre mutuamente, mas quando ficamos mais à vontade, a comunicação faz-se nos dois sentidos e às vezes é surpreendente. A Selma que trabalha no condomínio perguntou-me: “Are there African people in Portugal?” deixando-me feliz por ajudá-la em 2 minutos a transpor 2 continentes. Mas é na rua, entre estranhos, que misturamos as nossas culturas com maior liberdade e sem filtros. E, ao longo destes percursos prolongados de muitas horas, o caminho faz-se em grande parte através da janela, onde o movimento cria uma variedade de cores e de formas desconcertante, sempre ao nível térreo pela escassez de construção em altura, como no imaginário do cinema western. Durante as paragens, enquanto observo as pessoas, sinto-me observada, mas é só porque o Sol nos fez diferentes. As crianças com a sua luz transcendente ainda nos encaram de uma mesma realidade. É como se àquela distância, ainda não se detetem as diferenças que inevitavelmente aparecem socialmente com o avanço do tempo.

Da janela, o caminho vai ficando para trás. As localidades assemelham-se a quartos de brincar com tudo espalhado ao acaso. No espaço em redor, há certas preciosidades inesperadas como um new beetle junto a uma sucata, ou uma cabra a sair de uma loja, entre tecidos africanos dispostos em charriots de pau, pirâmides de hortícolas e artigos singulares que se distribuem pelas bancas até ao infinito das estradas nacionais. No entanto, é dentro da própria cidade, nas filas intermináveis de trânsito, que podemos observar com mais atenção as coisas de perto. E, além das máscaras de prevenção Covid, há muitas vendedoras e vendedores que carregam objetos diversificados, como coçadores de costas, quadros, coadores, alguidares, e até animais vivos. Há muitas crianças nas vendas carro-a-carro. Há oferta de muita coisa nas margens das estradas: sofás, roupa – os manequins do lado exterior das lojas exibem indumentárias estranhas – e o que quer que pareça fazer falta em dias de muito calor. Há apenas que saber procurar. E há sobretudo muito trânsito. Entre os muitos boda bodas apressados, há tudo de tudo, e cada pedaço que cabe na janela é irrepetível fazendo do Uganda um gigante patchwork animado. Tenho a certeza que amanhã já nada será igual.

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