Deixar 2019 para trás para entrar em 2020 num dos mais belos países da civilizada Europa, sem chuva, com temperaturas acima dos 0 ºC e céu azul. A Escócia deu-me o que mais valorizo: A terra a bruto e animais que aparecem timidamente num espaço sem vedações que lhes pertence. Paradoxalmente, uma capital cheia de história que não surpreende mas fervilha com gente do mundo inteiro de tocha acesa na mão, e uma ligação de energia intraduzível. O castelo de Wallace e Bruce. Os pubs e a fresca Tennent’s genuína em Glasgow. O bom funcionamento dos comboios entre um lugar e o outro. A destilaria de Stirling com licor Green Lady, de gin e menta. As ternurentas vacas cabeludas indiferentes às temperaturas frias. As paisagens avassaladoras pela imensidão e pela cor que me sugeriram um certo parentesco Islandês. Na Escócia, o que se perde de vista e que as montanhas não anunciam ganha-se em conforto de alma, e em ainda mais respeito pela Natureza. Entrar nas Terras Altas em Glencoe era como ouvir Hans Zimmer, e gostar tanto daquilo ao ponto de se imergir, porque, em verdade, é preciso seguir a beleza para encontrar mais beleza a seguir, e depois das montanhas vinham outros elementos (adicionam-se mais instrumentos): como cascatas, lagos e árvores muito verdes e muito castanhas, com certeza pintadas de fresco poucos minutos antes de chegarmos. E é a sensação de gostar tanto da envolvente que faz com que se continue mais além porque talvez o mundo acabe depois da próxima curva. Aquela era uma estrada única a envolver os montes a seguir às Três Irmãs. De repente, uma cabeça de veado distingue-se do nada, imprimindo uma fotografia irrepetível, porque o Sol de frente ajuda, sem querer, a desenhar uma silhueta perfeita de cabeça e chifres (a orquestra a tocar em uníssono, e não há uma nota fora do lugar). A natureza não sabe da alegria que me transborda por dentro. Era preciso que o tempo parasse e sento-me um minuto na estrada, para engolir o infinito que é o mundo em certos paraísos. Respiro num lugar onde a tonalidade das coisas tem a percentagem certa de saturação e brilho. Há horas do dia assim… e fico, talvez mais 4 minutos, ali, para me lembrar que será difícil isto ser maior, ou viver isto melhor, como quando fecho os olhos para desfrutar perfeitamente daquele som que me aproxima de quem realmente eu sou, e me permite alinhar como uma só coisa num mesmo compasso do universo, num breve instante que se segura, assim, até a música terminar.





























