Estou a ouvir uma música que o Patrick Watson lançou há dias e vos recomendo:
Sobre isto, ele disse assim:
“So I have some new music for you. One of the inspirations for these three pieces came the last time I was walking the streets of Lisbon. It’s my favourite place to wander, it just generally feels like the streets are singing this wonderful melancholic sound for your walk, that pulls you into small winding roads, that make you feel like you’ll get lost and never return. Hence the mermaid title. It’s an incredible place and it was the one place in the world I missed most during the quarantine.
As a young man I discovered Teresa Salgueiro in the great Wim Wenders movie “Lisbon Story” and from that time her music with Madredeus accompanied me on so many walks around the world. Her music had a big impact on me, so it was fun to have the privilege to ask her to sing on this song. I always found Portuguese to be such a rich and beautiful musical language and it’s an honour that Teresa would lend its beauty to these songs. We were happy to have Teresa translate and bring to life Se Tu Soubesses, the intro Mishka Stein and I wrote.”
Partilho A Mermaid in Lisbon também por a Teresa Salgueiro fazer parte da composição. Por muito que me ausente da praia lusitana e mude de idioma, eu sei quem sou. Não tenho um lugar preferido no mundo, tenho muitos. Não tenho uma saudade específica, são várias. Ganhei a noção de num segundo poder perder certezas que tinha como garantidas; pois agora sei que estou em casa e de repente, ao final do dia vai abater-se a escuridão. Habituei-me à lanterna e a deitar mais cedo ou vou ao jardim pedir aos guardas o favor de irem puxar a corda ao gerador. Habituei-me também a viver de água engarrafada. África é muito acerca do que toda a gente diz; mas cada um tem a sua. Entretanto, o vírus deste milénio tem-se apoderado dos Ugandeses. Chegam a morrer 30 pessoas num dia em Kampala por falta de garrafas de oxigénio. Ignoro as estatísticas das outras cidades. Mas ainda estou bem onde estou, enquanto vou descobrindo. Tenho encontrado muitas coisas que me fazem crescer. Percebo que o mundo é composto de tanto que é tão simples. Algumas coisas não são boas mas comovem-me. As crianças que vemos na rua, que interagem connosco só porque são crianças e nos olham com persistência. As ambulantes com bacias à cabeça; e nem preciso mas compro-lhes legumes só para as ver sorrir. Todos os dias as vejo correr descalças, com famílias que parecem estar sempre a aumentar. Vejo-as despidas a cada porta e a cada passo, a cantar e a dançar. As mães em constante actividade ao lado da roupa pendurada à frente do tijolo vivo das fachadas. Outras mulheres no mercado vendem tudo o que sai da terra e animais estranhos como formigas brancas Nswaa que dizem ser um delicatessen sazonal. Num impulso de salvação adoptei 3 coelhos de companhia e tento uma dieta cada vez mais vegetal. Não consegui ainda encontrar uma varinha mágica para terminar a sopa, nem um espremedor de citrinos, mas aprendi que os garfos trituram bem as Irish potatos depois de cozidas e, se agarrar um limão com força, entre as mãos, consigo fazer sumo. Se calhar temos mesmo muitas coisas a mais e fico sem saber se este mundo daqui será assim tão mau para quem não conhece outro. Uma senhora pediu-me 10.000 Xilins por um tapete cujas mãos teciam de cor com erva seca trazido do pântano. Menos de 2 euros e meio. O mesmo que cobram por um dia na piscina do hotel com direito a espreguiçadeira, colchão, toalha e uma amabilidade ímpar. Às vezes, almoçamos e carregam-nos uma mesa com várias toalhas sobrepostas, e guardanapos de pano branco imaculado. Trazem guarda-sóis para junto da piscina e sumos muito frescos de maracujá que vão comprar na altura. Não era preciso aquilo tudo mas fazem questão de prestar o melhor serviço do mundo. Na maior parte dos fim-de-semana a piscina está livre à nossa espera com água mais quente do que a que experienciei em Zanzibar porque o calor é uma força omnipresente. E poucas coisas me dão mais saúde do que ter o Sol pousado na pele a fabricar a terceira vitamina D. A música também me alenta pois ajuda a construir quem somos. Vai-nos afinando e leva-nos a viajar. De certa maneira é como se nos despertasse. E eu sei que estou feliz porque continuo a ver desenhos no céu, sabendo que qualquer dia é perfeito para pegar no tapete e mudar de geografia.